sábado, 3 de janeiro de 2009

Excesso


Há amores estranhos fundos sem razão-

são secretos vivem na cumplicidade

indizíveis nas palavras que aqui vão

são impróprios de viver em liberdade

levaram a ternura ao exagero

e a um excesso saboroso a nossa pele

só compreende quem sente o latejar

bem mais dentro que os olhos do olhar,

há amores que não posso aqui explicar

pois quer queiram quer não inda vivemos

na pré-História de um Futuro de cem mil anos

nas grutas de um sentir que não sabemos

há uma palavra escandalosa e proibida

quando se fecha a porta e começa a fantasia

e me sento no sofá e desligo-me da vida

e fico Senhor completo do teu corpo

e o código começou e tu me ofereces

o máximo que alguém nos pode dar

e a guerra não tem hoje nem tabus

são duas vontades grandes que ali estão

e mais que as mãos e a boca e o Futuro

e o vício de dois corpos seminus

amarro em ti a vida que me escapa

e acordas-me explicando o mundo todo

e cedo a esta raiva que me mata

e sinto em ti Mulher, Mulher de mais

e houvesse aqui, agora, já, um altar

e eu casava-me contigo poro a poro,

casava-me contigo em todos os rituais

se é que não estou exactamente assim casando

o ontem com o presente e o infinito

e a cada jogo beijo salto ou grito

pressinto o chão fugir e o mundo longe

e há um abuso consentido que não peço

e tu olhas-me plácida e tremente raiva e calma

e a tormenta desabrocha e sai de nós

pela porta escancarada do excesso

(Poema (canção) de Pedro Barroso)

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