Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além
Para atingir, faltou-me um golpe de asa ...
Se ao menos eu permanecesse aquém ...
Assombro ou paz ? Em vão ... Tudo esvaído
Num grande mar enganador d´espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor ! - quasi vivido ...
Quasi o amor, quase o triunfo e a chama,
Quasi o princípio e o fim - quasi a expansão ...
Mas na minh´alma tudo se derrama ...
Entanto nada foi só ilusão !
De tudo houve um começo ... e tudo errou ...
- Ai a dor de ser-quasi, dor sem fim ...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou ...
Momentos de alma que desbaratei ...
Templos aonde nunca pus um altar ...
Rios que perdi sem os levar ao mar ...
Ânsias que foram mas que não fixei ...
Se me vagueio, encontro só indícios ...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos d' heroi, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios ...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí ...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi ...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe d´asa ...
Se ao menos eu permanecesse aquém ...
Paris 1913 - maio 13
Mário de Sá-Carneiro
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6 comentários:
Lembranças fluidas... cinza de brocado...
Irrealidade anil que em mim ondeia...
– Ao meu redor eu sou Rei exilado,
Vagabundo dum sonho de sereia...
Paris 1914 - junho 30
Mário de Sá-Carneiro
Isto é uma súplica:
Não te escondas atrás das palavras dos outros, as tuas são tão belas!
Seguiste-me até aqui,é legítimo que eu pense que sentes a minha falta.
Então diz-mo, é pedir muito?
Sinto a tua falta
Sinto Saudades,
Sinto-me só
Sinto-me assim,
Incompleto…
Sinto a tua falta
Porque sinto falta de mim!
Queria tanto preencher esse vazio!
Já nem sei se sou capaz, já nem sei como se faz!
Invadiu-me uma negrura, uma cegueira...
Tens de me levar pela mão.
As tuas mãos fazem as minhas tremer!
Não deixes que ninguém veja...
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